O GLP-1 (Glucagon-like Peptide-1) é um hormônio produzido pelo intestino e liberado na presença de glicose. Ele sinaliza ao cérebro que estamos alimentados, o que diminui nosso apetite. Esse hormônio também aumenta a secreção de insulina, inibe a secreção de glucagon e a produção hepática de glicose, o que aumenta nossa sensação de saciedade. Por fim, o GLP-1 possui ações indiretas sobre o tecido adiposo e o sistema cardiovascular.
Medicamentos à base de semaglutida, liraglutida e tirzepatida são homólogos entre 50% a 97% do hormônio GLP-1 humano, usados na produção de Saxenda® e Ozempic®, por exemplo, que auxiliam no tratamento da perda de peso. Apesar dos preços, ainda bem altos, esses fármacos têm se popularizado pelo mundo, como apoio ao tratamento da obesidade.
Desde janeiro de 2024, algumas moléculas desta classe de medicamentos tiveram suas patentes expiradas, incluindo Victoza e Saxenda®. As companhias detentoras das patentes, porém, ainda tentam a prorrogação das patentes de formulação.
Em 2022, no Brasil, houve a queda do parágrafo único do Artigo 40 da Lei de Patentes (9276/96), que discorria sobre prazos em vigor para invenções (20 anos) e de modelo de utilidade (15 anos). Tal fato abre espaço para a criação de medicamentos genéricos e maior concorrência na indústria.
Com a alta prescrição desse tipo de medicamentos, esse será, sem dúvida, um grande atrativo para a indústria de genéricos. A partir da expiração das patentes de molécula e formulação, as empresas poderão lançar suas versões mais baratas, devidamente registradas no agente regulador. Com certeza, isso garantirá maior acessibilidade às drogas.
Estudos recentes, porém, trazem à tona um ponto de atenção para todos, que já estão ou querem participar deste mercado. Duas pesquisas de 2024, publicadas pelo International Journal of Clinical Pharmacy e pela eClinicalMedicine, mostram que os efeitos do uso desses medicamentos podem frustrar algumas expectativas de pacientes e da indústria. As publicações avaliaram desfechos neurológicos e psiquiátricos após 1 ano de uso, incluindo encefalite, enxaqueca, insônia, acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, psicose, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), depressão e suicídio.
Foram analisados 31.444 eventos adversos, na base de dados do EuroVigilance Database, sendo 372 casos de eventos psiquiátricos dos 481 eventos adversos relatados, relativos ao SNC (Sistema Nervoso Central). Durante o período do estudo publicado na International Journal of Clinical Pharmacy, os casos mais graves tiveram desfecho fatais (9 incidências) e 11 tiveram risco de vida. Outros efeitos apontados foram náusea, vômitos, diarreia e constipação.
Estes estudos nos trazem um ponto de atenção: embora os desfechos graves representem somente 1,2% do total de casos, é preciso lembrar que estamos diante de um acesso limitado a estas drogas, devido ao custo. No entanto, quando os medicamentos genéricos tornarem esses fármacos mais acessíveis, profissionais de saúde devem estar atentos a alguns aspectos.Primeiro, para a comercialização, a partir de prescrição com o devido acompanhamento médico. É preciso também considerar atendimentos que ocorrem sem a devida conduta médica, que pode potencializar o problema relacionado a eventos adversos graves.
Por fim, a comunidade científica e as empresas detentoras de registros devem avançar em investigações mais profundas sobre os casos relatados no estudo acima. Fica o alerta contra o uso indiscriminado desses medicamentos, que em vez do efeito desejado, pode trazer sérios riscos à saúde de seus usuários.
FONTES:
Tratamento da Obesidade e do Diabetes: saiba mais sobre os análogos ao GLP-1
International Journal of Clinical Pharmacy (2024) 46:488–495
https://doi.org/10.1007/s11096-023-01694-7
eClinicalMedicine 2024;▪: 102726
Publicado Online xxx https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2024.102726


